In Our Living Room - Marcos DeBrito





Na Coluna In Our Living Room de hoje conhecemos um pouco mais sobre o escritor Marcos DeBrito, autor do livro A Sombra da Lua, publicado pela editora Rocco.

Sobre o Autor: Nascido em Florianópolis (SC) mudou-se para São Paulo em 1998 para estudar Cinema. Desde o ano de 2001 trabalha com cinema como diretor e roterista com diversos curta-metragens premiados, entre eles seu primeiro longa-metragem "Condado Macabro". 

Canais para se comunicar com o autor e saber mais do autor:

A literatura é como uma semente, uma vez semeada não faz outra coisa a não ser crescer, expandir e dar frutos. Quem foi na sua vida que plantou esta semente em você? Como foram seus primeiros contatos com a literatura?

Lembro que desde sempre gostava de escrever. E não eram sobre eventos cotidianos ou “minhas férias” como os professores insistiam em pedir. De alguma maneira eu sempre encontrava um jeito de distorcer a realidade para trazer o mórbido ou o sobrenatural às redações, mesmo na infância. Gostaria de dizer que a Escola quem plantara essa semente, mas não. Foi algo além da minha compreensão. Eu não escrevia por gostar de ler. Eu escrevia por querer tirar algo de mim que eu não entendia. Não lembro meu primeiro contato com a literatura, mas o primeiro livro que me pegou foi “Noite na Taverna”, do Álvares de Azevedo.

O que lemos ao longo de nossa história fica guardado em nós como referências positivas (autores que amamos e que queremos ter/ser) e negativas (o que não gostamos, ou simplesmente não nos identificamos). Quais são os autores que fazem parte da sua história literária?

Não acredito ter influências negativas de autor nenhum por assumir muito bem qual a minha preferência literária. Porém, positivas, ou que tiveram alguma culpa por eu querer publicar algo, além do Álvares de Azevedo posso apontar: Edgar Allan Poe, Goethe, Bram Stoker, Mary Shelley e Saramago. Deste último mais especificamente o livro “Intermitências da Morte”.

Livros são ótimos amigos, os livros favoritos então são como melhores amigos. Pensando em tudo que você leu qual seria o livro que você tem como obrigatória a leitura? Porque ele é tão importante para você?

Considero dois textos como leitura obrigatória. Seriam, em igual importância, o conto “O Corvo” do Edgar Allan Poe, e o livro “Macário” do Álvares de Azevedo. Em ambos, a maneira poética como as palavras são encadeadas transcende o mero sentido da trama. Essas histórias foram importantes para mim porque criaram a minha fixação pela Segunda Fase do Romantismo e me mostraram que quando uma história é escrita com tamanha devoção e cuidado ela pode ir além da imersão para tornar-se parte da personalidade de quem a ler.

O mercado editorial brasileiro é pobre em espaço e investimento em autores nacionais, são poucos que conseguem publicar seus livros, e mais raros ainda em editoras grandes como é seu caso com a Rocco. Como foi o processo de publicação do seu livro, quais foram as dificuldades?

Como eu não tinha experiência, ou qualquer tipo de contato no ramo literário, resolvi pesquisar as maneiras de como enviar um original às editoras e segui à risca as diretrizes. Lembro bem que eu havia colocado a Rocco como inatingível; isso por razão das ótimas escolhas de publicação que fizeram ao longo dos anos. Estar na mesma prateleira que a Anne Rice parecia uma pretensão que não me cabia, mas hoje encontro o “À Sombra da Lua” ao lado do “A Dádiva do Lobo” em algumas livrarias.
Mas para chegar até aí foram alguns anos de trabalho. Após terminar o livro passei por duas revisões literárias e reescrevi o texto algumas vezes. Só encaminhei para a Rocco quando estava seguro de que era aquela a história que eu queria ter publicada. Depois, dentro da editora, fomos trabalhando para o texto ficar ainda melhor. A Rocco fez um novo trabalho de revisão, deu algumas sugestões e fomos adequando o livro final.

Em seu livro À Sombra da Lua você trabalha com um ser fantástico ainda não muito popular e trabalhado na literatura fantástica. Porque entre tantos seres que existem você escolheu os lobisomens? Alguma afinidade pessoal com eles?

A dualidade da licantropia sempre me interessou muito por ser uma oportunidade para criar uma história cheia de ramificações. O verdadeiro sentido da maldição do homem que se transforma em criatura é o de apresentar a Besta que habita na alma humana. Enquanto um homem comum precisa respeitar determinadas normas de comportamento, quando transformado, ele segue seus instintos primários ignorando a ética e moral. Isso me trazia uma gama de ideias onde eu poderia discutir algumas questões filosóficas e expor um conhecimento folclórico, mitológico e religioso pouco conhecidos para a maioria das pessoas.

Seu livro é repleto de referências bíblicas, mitológicas e históricas, quais são as fontes que utilizou para criar a mitologia lupina de seus lobisomens? Algum autor que tenha lhe inspirado?

Os autores que eu tive como referência estão, inclusive, citados no próprio “À Sombra da Lua”. Não me baseei em ficção, mas sim em relatos tidos como reais para criar a história que se passa em Vila Socorro. A Enciclopédia de História Natural do filósofo romano Plínio, O Velho, morto na erupção do Vesúvio, foi um alicerce para afirmar que os cynocephali (cabeças de cachorro) existiram em determinado momento da nossa História. E as ilustrações nos também citados Saltérios de Kiev e Teodoro legitimam essa afirmação. Mas a base mais importante foi a lenda grega do rei Licáon, que gerou a terminologia “licantropia”. Todo conhecimento do personagem Valêncio foi retirado de livros reais.

Na minha opinião é difícil adaptar os seres fantásticos ao cenário brasileiro sem causar um ser estranhamento, eles acabam soando como uma adaptação do que existe no mercado internacional, e não como uma produção autêntica. Entretanto À Sombra da Lua não sofre desse problema, a história brasileira aparece na medida certa no desenrolar dos fatos. Qual foi seu critério no momento de escolher quais momentos da história utilizar e como fazê-lo?

Para ambientar uma criatura proveniente da Europa em nossa geografia, escolhi o final do século XIX por ser um momento onde a imigração italiana para o interior paulista estava no auge. Sempre tive uma preocupação latente em tornar a história verossímil. Ao escrever literatura Fantástica um autor precisa entender que o leitor tem um limite para aceitar as quebras de realidade. Busquei respeitar isso trazendo uma situação improvável, porém ambientada num mundo conhecido e real, respeitando, inclusive, o calendário lunar da época.
Acho que algumas das vantagens do livro para deixá-lo autêntico foi ter mesclado histórias do nosso folclore com relatos europeus da época da Inquisição e discutir racionalidade e fé com embasamento em textos bíblicos reais e livros apócrifos que consegui ter acesso.

Além de escritor você também é cineasta, pensando no cinema o que tem achado das adaptações literárias de livros para os cinemas? Você gostaria de em algum momento transformar seu livro em um filme?

Eu sou cineasta por formação e a tenho como profissão principal. Talvez por isso eu acredite que é errado comparar uma obra com a outra. Na literatura você entra nos pensamentos dos personagens e os conhece mais a fundo, enquanto no cinema você apenas os vê e os ouve. Ouço bastante a máxima “o livro é melhor do que o filme”, mas considero uma comparação injusta. São mídias distintas. Em uma você tem o artifício de descrever o sentimento, enquanto na outra você precisa transmiti-lo através de enquadramentos de câmera, dramaticidade de luz, velocidade de corte e ações e olhares dos atores.
O “À Sombra da Lua” foi escrito primeiramente como roteiro cinematográfico chamado “Vila Socorro”, mas como era um projeto muito caro e longo, resolvi adaptá-lo para romance antes de filmar porque a realidade do cinema no Brasil é ainda mais difícil que a do mercado editorial. Eu gostava tanto da história que não queria correr o risco de ela não existir, por isso adaptei. Mas sim, transformá-lo em filme está na minha lista de projetos.

À Sombra da Lua termina com um gancho para um próximo livro (vampiros eu entendi correto rs?! a Bruna pula de alegria! rs!) haverá continuação das pesquisas de Valêncio na Romênia? Quais são seus futuros trabalhos literários? (fique a vontade também para divulgar suas produções cinematográficas).

Rs... É... Não dá pra esconder que eu direcionei o final do livro para isso, né? Já estou rascunhando duas continuações. Na próxima o Valêncio estará mais presente na ação da trama, que se passará parte em algum país do leste Europeu e parte na Vila Esperança. Voltarei com alguns personagens e trarei novas surpresas sobre seus destinos. A trama já está traçada, faltando apenas desenvolvê-la.
No entanto, estou com trabalhos em andamento que preciso finalizar antes de começar a escrever o próximo. No começo de 2014 devo entregar à Rocco a primeira versão de “O Escravo de Capela”. Como em “À Sombra da Lua”, busquei outro personagem folclórico, desta vez o Saci, e recriei sua lenda de maneira visceral, repaginando-a a um estilo mais denso. A trama se desenvolve no Brasil Colônia, final do século XVIII, em uma fazenda de cana. É um trabalho que estou gostando muito do resultado. Consegui abordar uma crueldade diferente, ainda mais vingativa.
Além disso, ano que vem deve estrear comercialmente meu primeiro longa-metragem “Condado Macabro”, que dirigi com meu amigo André de Campos Mello. Esse é um filme slasher que segue o estilo “Massacre da Serra Elétrica”, com bastante sangue e humor. Para quem quiser conhecer mais sobre ele, só entrar no site www.condadomacabro.com.br ou curtir a página de Facebook (www.facebook.com/condadomacabro). Lá tem fotos, teasers e um pouco sobre o elenco e equipe.

Em nome do House of Chick agradecemos seu contato e a entrevista, fique a vontade para adicionar qualquer informação que queira compartilhar conosco!

Eu quem agradeço o espaço e simpatia. Para atiçar a curiosidade, estou deixando uma das ilustrações do Saltério de Kiev para ilustrar a entrevista.


>> Esse post está participando do Top Comentaristas Nº 19 - FORMULÁRIO 






Comente com o Facebook:

16 comentários:

  1. Oi Bruna!!!

    Nossa, não conhecia o autor nem seu livro, mas já vou procurá-lo! Adoro essa coluna, estou conhecendo vários autores muito bons! Parabéns!

    bjo bjo^^

    ResponderExcluir
  2. Genteeemmmm que issooo????? Lobisomem, vampiro, bruxa, terror....livro, filme....adooooro!!!!!

    Angela Serafin

    ResponderExcluir
  3. Amei a entrevista. O autor parece ser brilhante e muito simpático. Foi muito bom conhecê-lo. Parabéns pela entrevista. Beijos.

    ResponderExcluir
  4. Adoro as entrevistas aqui do House!!
    Através delas eu já conhecia muito autor ótimo que nem fazia ideia que existia!""
    Adorei conhecer um pouco mais do Marcos e fiquei bem curiosa em ler seu trabalho!!
    Achei ele bem simpático e muito inteligente além de bonito néh =X
    rsrsrs
    Beijos

    ResponderExcluir
  5. Me deixaram curioso pra ler o livro dele, parabéns kkkkk

    ResponderExcluir
  6. Muito legal a entrevista. O autor é Catarinense como eu :)

    ResponderExcluir
  7. Adorei o site de vocês!!!
    Adorei mesmo!!! Tem tanta coisa legal!!
    Esse espaço para falar de autores novos é super criativo, ainda mais ele dando a entrevista!! Ainda não tinha visto isso nos outros blogs literários que frequento! Por sinal, esse aqui já é um dos meus queridinhos!!
    Vou bisbilhotar o site agora!! haha!!
    Sucesso meninas!!!
    Bjs

    ResponderExcluir
  8. Parabéns pela entrevista e pelas perguntas inteligentes e pertinentes. O autor também foi bastante atenciosa e simpático nas respostas. Espero que tenha muito sucesso, ainda mais que ele escreve um gênero que eu gosto muito, que é o sobrenatural.

    ResponderExcluir
  9. Não conhecia o outor ou o livro e fico feliz por poder prestigiar mais um autor nacional. O mercado gerando autores com temas pouco usados na literatura nacional. Parabéns!

    ResponderExcluir
  10. Muito legal essa entrevista, ótimo autor, gostei muito das respostas dele...

    ResponderExcluir
  11. Ele parece ser um autor bem interessante! Adorei a citação de O corvo e Macário, dá para perceber que os livros dele tem esta temática mais sombria/sobrenatural devido ao tipo de literatura que ele gosta. Sucesso para ele!

    ResponderExcluir
  12. Parabéns pela entrevista, é muito bom dar espaço para autores brasileiros, expondo seus trabalhos e a forma de criação de seus livros. Ele parece ser inteligentíssimo e super dedicado a deixar seu trabalho o mais completo possível!

    ResponderExcluir
  13. Ótima entrevista, não conhecia esse autor, seus os livros parecem ser bons!

    ResponderExcluir
  14. A temática do livro (A sombra da lua) que ele escreveu não me atrai muito, embora o livro parece ser muito bem escrito!

    ResponderExcluir
  15. Gostei muito da entrevista e por ele ser um escritor nacional! Não o conhecia e nem seus livros..

    ResponderExcluir
  16. Autor fantástico, achei bacana a mistura de Vampiros, bruxos, lobisomem. Fiquei com vontade de conhecer essa obra dele!!!

    ResponderExcluir